sábado, 12 de setembro de 2009

Carmen

"Olhos tristes são o que vejo em você." Disse Cássio. ' Seus olhos são enormes, me assustam, quando as vezes e muito por acaso os encontro.Você não poderia ser menos feia e desarrumada, Carmen? Anda sempremuda se esgueirando pelos cantos das paredes, se escondendo nassombras por detrás das portas desta casa imensa. Sua presença me enoja, parece um bicho, não fala. Come sem maneiras. Mas, os seus olhos tristes e enormes, que parecem estar cada vez maiores, toda vez que em que me vejo obrigado a suportar sua imagem, são o que mais chamam atenção. Eles me fazem perdoar toda essa imundície que suapresença exala. Quero ver o quanto mais de seu rosto estes teus olhos devorarão. Uma noite, sonhei que tu eras toda olhos, um grande par de olhos a vagar nesta casa, se arrastando, como é de seu costume fazer.Foi uma visão medonha, tenho que admitir, mas... muito intrigante. E penso se não é possível que te tornes realmente aqueles olhos. Como sempre não falas nada. És muda mesmo, ou não sabes falar criatura asquerosa? Responde, responde, ou arrancar-te-ei a língua, pois é desnecessário mantê-la, sendo que não a usa para nada! "Cássio correu em direção á moça e esbofeteou-lhe. E quando viu o lábio inferior de Carmen sangrar, ordenou que o deixasse em paz. Ela, porsua vez, arrastou-se para fora da sala, e trancou-se no porão, que era o que tinha por quarto. Em seguida ele me recebeu, pois era meu primeiro dia na Residência Stern. E não se incomodou de ter feito tal cena em minha frente. Não parecia consternado ou envergonhado. Passou-me a lista de obrigações, mostrou meus aposentos e foi-se. Carmen era uma moça, cuja aparência me abstenho de descrever, por não encontrar palavras que as valham. Tinha dezesseis anos, acho. Eram irmãos por parte de pai, o que vim a descobrir bem depois. Demorei a me habituar com os modos que Cássio tratava a própria irmã. Conforme os anos foram passando, descobri o motivo real de todo aquele ódio aparente, e, não sei como hoje ainda tenho coragem de relembrar estes fatos intrigantes e tristes. Quem sabe eu venha a ter culpa, mas averdade, é que agi pensando que estava a fazer o certo. Talvez o demônio tenha me enfeitiçado. Mas agora que a vida já se finda e não tenho muito o que fazer, quero deixar como herança minhas lembranças,malditas talvez, mas sempre lembranças.

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